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Rendibilidade média das empresas ultrapassa valor de 2019 até 2023

O Banco de Portugal (BdP) considera, no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) recentemente divulgado, que a rendibilidade média das empresas deverá ultrapassar os valores de 2019 até 2023, estimando uma recuperação mais lenta para o alojamento, restauração e comércio.

"Num horizonte de previsão até 2023 estima-se que a rendibilidade média das SNF [sociedades não financeiras] deverá recuperar gradualmente e exceder o observado em 2019", pode ler-se no REF agora divulgado.

O Banco de Portugal espera que "os setores do alojamento e restauração e do comércio apresentem uma recuperação mais lenta e, também, um aumento do risco de insolvência".

O banco central considera que "importa aferir a viabilidade dos modelos de negócio das empresas", num contexto de "digitalização e necessidade de adaptação da estrutura produtiva, decorrentes das alterações climáticas e das alterações que foram introduzidas no pós-pandemia".

"Entre as que apresentam um modelo de negócio viável, mas enfrentam dificuldades em retomar os pagamentos após o término da moratória e outras medidas de apoio, a reestruturação da dívida e uma eventual recapitalização poderão ser bem-sucedidas", pode ler-se no documento.

Já no caso das empresas não viáveis, "assume especial relevância a agilização dos procedimentos de insolvência e liquidação".

"É de esperar algum desfasamento temporal até que seja possível aferir o impacto global da crise pandémica sobre o incumprimento das empresas", ressalva ainda o BdP.

O relatório hoje divulgado faz uma resenha de alguns indicadores económicos referentes a 2020: o volume de negócios agregado caiu 9,7% e o EBITDA [resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] desceu 18,9%.

Ainda assim, "o período de confinamento no primeiro trimestre de 2021 não se traduziu numa redução adicional da rendibilidade das SNF, a qual, no decurso da crise pandémica, se manteve acima dos níveis observados durante a crise da dívida soberana".

O BdP destaca ainda que em junho deste ano "a rendibilidade do setor das indústrias já recuperou para um nível superior ao observado em 2019, contrastando com a recuperação gradual nos setores de comércio e serviços".

"Até junho de 2021 não se observou um aumento das insolvências de SNF, as quais se concentraram nas empresas que tinham uma situação financeira menos robusta no início da crise pandémica", pode ainda ler-se no documento.

Também no primeiro semestre deste ano "o rácio de endividamento em percentagem do PIB [produto interno bruto] das SNF manteve-se praticamente inalterado", depois do aumento em 2020, comum "a Portugal e à área do euro".

"Em 2020, o crédito concedido a empresas sem indicação de vulnerabilidade financeira apresentou o maior contributo para a variação homóloga do crédito concedido a SNF", segundo o BdP, e "o aumento do financiamento foi acompanhado pela constituição de reservas de liquidez, tendo-se reduzido, em termos agregados, o rácio de endividamento líquido de depósitos".

A instituição liderada por Mário Centeno observou também que "o maior crescimento do rácio de dívida financeira sobre ativos ocorreu em empresas que apresentavam menores rácios de endividamento antes da crise pandémica".

O BdP detalha também que "nas empresas dos setores mais afetados observou-se, em geral, um aumento do rácio de dívida financeira e do rácio de dívida financeira líquida de depósitos, por oposição ao observado nas empresas dos setores menos afetados".

O BdP indica também que em outubro "o montante total de crédito de SNF em moratória totalizava 2.707 milhões de euros, correspondente a 3,6% do total de crédito a este segmento, dos quais 51,3% se concentram nos setores mais afetados pela crise".

 

Ademar Dias

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